Presente nos mais diversos espaços de convívio, até mesmo naqueles que dizem presar pelo
respeito à diversidade, a violência contra homossexuais cresce e revela um processo geral
de acirramento das tensões, que envolve o avanço das conquistas de direitos sociais de
parcelas da população historicamente discriminadas e exploradas e, em contrapartida, o
crescimento das reações dos setores conservadores da sociedade.
Relatório do governo
federal revela aumento expressivo da violência contra homossexuais no Brasil em
2012 em comparação com 2011. O levantamento, feito a partir dos registros do
Disque 100 e de informações divulgadas pela imprensa, traz números
surpreendentes. Em 2012, foram registradas 9.982 violações relacionadas à
população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT),
envolvendo 4.851 vítimas – média de 27,7 casos por dia. Em relação à 2011, o
aumento foi de 46,6%. Os jovens são os principais alvos. Mais da metade das
vítimas da homofobia têm idades entre 15 e 29 anos (61,16%) e, na maioria dos
casos, mais de um tipo de agressão é registrado em uma mesma denúncia. Pelo
levantamento, verifica-se que as violências psicológicas foram as mais reportadas
(83,2% do total), seguidas de discriminação (74,01%) e agressões físicas (32,68%).
Foi a primeira vez, no Brasil, que o governo federal lançou dados oficiais sobre
as violações de direitos humanos dos LGBT. Organizações como o Grupo Gay da
Bahia (GGB) também registraram aumento de violências e de denúncias
em 2012. Homicídios,
agressões físicas e psicológicas, humilhações, hostilização, ameaças, calúnia,
injúria, difamação, perseguição, chantagem, abuso financeiro e discriminação no
local de trabalho compõem o rol das violências contra os homossexuais. Os
ataques homofóbicos não constituem fatos isolados. Fazem parte de um processo geral
de acirramento das tensões que envolvem o avanço das conquistas de direitos
sociais de parcelas da população historicamente discriminadas e exploradas pelo
modelo capitalista de produção e, em contrapartida, o crescimento das reações dos
setores conservadores da sociedade. “O aumento dessa violência, mais do que visível
no sentido do senso comum, é fato concreto. Até porque, se damos mais
visibilidade a nós, sujeitos LGBT, isso provoca uma maior reação dos contrários
a qualquer forma de vida que não seja heteronormativa [termo que pressupõe como
única norma social a heterossexualidade], pequeno-burguesa e nesse padrão fechado.
As pessoas estão denunciando mais as violências em virtude da gradativa mudança
de costumes que ocorre na sociedade”, analisa Sergio Aboud, representante da
Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff), Seção
Sindical do ANDES-SN, no Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Étnicorraciais,
Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do Sindicato Nacional. Os direitos dos
homossexuais têm sido objeto de intenso debate público nos
últimos anos em razão
do aumento da visibilidade do tema, incluindo aí os meios de comunicação e o
Congresso Nacional. Também surgiram vários estudos acadêmicos. É o caso da tese
de doutorado sobre homofobia no ambiente de trabalho do professor Hélio Arthur
Reis Irigaray, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.
O professor observa
que, se por um lado houve avanço importante em certos aspectos da
homoafetividade, como o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo
sexo, por outro registraram- se, nos últimos meses, aumento das manifestações
de ódio que vão de linchamentos a declarações condenáveis de políticos. Segundo
Irigaray, essa mesma dinâmica da sociedade é reproduzida no ambiente de
trabalho. Nas empresas, a homofobia é assunto proibido, mesmo em lugares que
promovem a diversidade. “As organizações têm um discurso certinho, de
responsabilidade social e de inclusão de minorias”. Mas ouvir um homossexual
descrever a vida corporativa, tudo muda de figura. Até hoje existem casos de
gays agredidos fisicamente no trabalho, mesmo em corporações com política de
diversidade. O homem branco heterossexual tem muito mais facilidade para progredir
na carreira que o gay. Os homens homossexuais são bem aceitos quando são
cabeleireiros, comissários de bordo, profissionais das artes, de telemarketing,
carreiras associadas às mulheres. Fora isso, os gays assumidos esbarram em
tetos invisíveis. “A dificuldade de crescimento profissional existe mesmo em
companhias com políticas de inclusão estabelecidas”, diz o professor.
É o caso da
universidade, ambiente que, apesar dos avanços na abertura para o debate do
assunto e local propício para aceitação das diferenças em virtude de ser, teoricamente,
o locus da pluralidade de ideias, da formulação de novos conceitos e da
realização de pesquisas, também lida com a homossexualidade com preconceito e
discriminação. “As instituições são refletores da sociedade, a qual, por muitos
ou por incontáveis fatores, tem uma aversão contra a população LGBT. E tanto
nos sindicatos como nas instituições temos as brincadeirinhas, as piadas. Todas
as falas de ofensas, tais como “viadagem” e outros termos chulos, que vão
entrar nesse lugar, colocando esses sujeitos como seres inferiores“, analisa o
professor de sociologia João Diógenes, da UniversidadeEstadual do Sudoeste da
Bahia (Uesb).
Fonte: http://portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-inf-392899837.pdf
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