segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Aumento da violência revela homofobia e opressão classista

Presente nos mais diversos espaços de convívio, até mesmo naqueles que dizem presar pelo 
respeito à diversidade, a violência contra homossexuais cresce e revela um processo geral 
de acirramento das tensões, que envolve o avanço das conquistas de direitos sociais de 
parcelas da população historicamente discriminadas e exploradas e, em contrapartida, o 
crescimento das reações dos setores conservadores da sociedade.

Relatório do governo federal revela aumento expressivo da violência contra homossexuais no Brasil em 2012 em comparação com 2011. O levantamento, feito a partir dos registros do Disque 100 e de informações divulgadas pela imprensa, traz números surpreendentes. Em 2012, foram registradas 9.982 violações relacionadas à população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), envolvendo 4.851 vítimas – média de 27,7 casos por dia. Em relação à 2011, o aumento foi de 46,6%. Os jovens são os principais alvos. Mais da metade das vítimas da homofobia têm idades entre 15 e 29 anos (61,16%) e, na maioria dos casos, mais de um tipo de agressão é registrado em uma mesma denúncia. Pelo levantamento, verifica-se que as violências psicológicas foram as mais reportadas (83,2% do total), seguidas de discriminação (74,01%) e agressões físicas (32,68%). Foi a primeira vez, no Brasil, que o governo federal lançou dados oficiais sobre as violações de direitos humanos dos LGBT. Organizações como o Grupo Gay da Bahia (GGB) também registraram aumento de violências e de denúncias
em 2012. Homicídios, agressões físicas e psicológicas, humilhações, hostilização, ameaças, calúnia, injúria, difamação, perseguição, chantagem, abuso financeiro e discriminação no local de trabalho compõem o rol das violências contra os homossexuais. Os ataques homofóbicos não constituem fatos isolados. Fazem parte de um processo geral de acirramento das tensões que envolvem o avanço das conquistas de direitos sociais de parcelas da população historicamente discriminadas e exploradas pelo modelo capitalista de produção e, em contrapartida, o crescimento das reações dos setores conservadores da sociedade. “O aumento dessa violência, mais do que visível no sentido do senso comum, é fato concreto. Até porque, se damos mais visibilidade a nós, sujeitos LGBT, isso provoca uma maior reação dos contrários a qualquer forma de vida que não seja heteronormativa [termo que pressupõe como única norma social a heterossexualidade], pequeno-burguesa e nesse padrão fechado. As pessoas estão denunciando mais as violências em virtude da gradativa mudança de costumes que ocorre na sociedade”, analisa Sergio Aboud, representante da Associação dos Docentes da Universidade Federal Fluminense (Aduff), Seção Sindical do ANDES-SN, no Grupo de Trabalho de Políticas de Classe, Étnicorraciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do Sindicato Nacional. Os direitos dos homossexuais têm sido objeto de intenso debate público nos
últimos anos em razão do aumento da visibilidade do tema, incluindo aí os meios de comunicação e o Congresso Nacional. Também surgiram vários estudos acadêmicos. É o caso da tese de doutorado sobre homofobia no ambiente de trabalho do professor Hélio Arthur Reis Irigaray, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.
O professor observa que, se por um lado houve avanço importante em certos aspectos da homoafetividade, como o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, por outro registraram- se, nos últimos meses, aumento das manifestações de ódio que vão de linchamentos a declarações condenáveis de políticos. Segundo Irigaray, essa mesma dinâmica da sociedade é reproduzida no ambiente de trabalho. Nas empresas, a homofobia é assunto proibido, mesmo em lugares que promovem a diversidade. “As organizações têm um discurso certinho, de responsabilidade social e de inclusão de minorias”. Mas ouvir um homossexual descrever a vida corporativa, tudo muda de figura. Até hoje existem casos de gays agredidos fisicamente no trabalho, mesmo em corporações com política de diversidade. O homem branco heterossexual tem muito mais facilidade para progredir na carreira que o gay. Os homens homossexuais são bem aceitos quando são cabeleireiros, comissários de bordo, profissionais das artes, de telemarketing, carreiras associadas às mulheres. Fora isso, os gays assumidos esbarram em tetos invisíveis. “A dificuldade de crescimento profissional existe mesmo em companhias com políticas de inclusão estabelecidas”, diz o professor.
É o caso da universidade, ambiente que, apesar dos avanços na abertura para o debate do assunto e local propício para aceitação das diferenças em virtude de ser, teoricamente, o locus da pluralidade de ideias, da formulação de novos conceitos e da realização de pesquisas, também lida com a homossexualidade com preconceito e discriminação. “As instituições são refletores da sociedade, a qual, por muitos ou por incontáveis fatores, tem uma aversão contra a população LGBT. E tanto nos sindicatos como nas instituições temos as brincadeirinhas, as piadas. Todas as falas de ofensas, tais como “viadagem” e outros termos chulos, que vão entrar nesse lugar, colocando esses sujeitos como seres inferiores“, analisa o professor de sociologia João Diógenes, da UniversidadeEstadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

Fonte: http://portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-inf-392899837.pdf

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